Hospital de Mentiras - Capítulo 7 - A minha luz


Hospital de Mentiras - Capítulo 7 -A minha luz


Aviso: Se você não viu o começo desta história, clique aqui para ir até o capítulo 1: "As estrelas sorriem".

Confesso que eu estava em um estado deplorável de tristeza. Todas os meus pensamentos estavam voltados para a situação não muito favorável da minha vida.
Estas questões sempre passaram pela minha cabeça, mas não tenho certeza do porquê de elas terem se tornado tão importantes da noite para o dia. Talvez demoraram mais do que imagino, afinal, desde que Mary e Teddy começaram a namorar venho me sentindo solitária, e quando sozinha pude cada vez mais me render aos meus pensamentos deprimentes, era a única opção de entretenimento naquele lugar, de qualquer forma.
O casal vivia em seu próprio mundo, Lysandre e Luana conversavam sobre seus estudos, eram inteligentes demais para que eu pudesse me enturmar, meu passatempo virou passar a observar a vida das outras crianças, notar seus privilégios, sonhos e preocupações. Quem sabe se eu fosse igual a eles teria uma vida semelhante.
Nunca me conformei com a desigualdade bem clara de tratamento, mas agora não consigo mais ignora-la como antes, por alguma razão.
-Andy, está aí? –Perguntou meu irmão com um sorriso largo de orelha a orelha brincando comigo.
-Claro que estou, seu bobinho! –Respondi o fazendo rir e me alegrando com sua presença.
-Vem, eu tenho uma surpresa para você –Disse me puxando para fora do quarto. Caminhamos até a Praça Central e paramos bem em frente à estátua do diretor Francis.
Por mais que esteja representando o homem mais cruel da terra, não deixa de ser bonita e representando seus detalhes muito bem, e isto de certa forma me gerava raiva.
-Aqui, vamos nos divertir um pouco –Comentou entregando algumas canetas coloridas para mim, e eu sabia exatamente o que fazer com elas –Vai rápido, os guardas podem chegar a qualquer minuto.
Enquanto ninguém estava vendo, escalei o monumento e fiz aqueles chifres de diabo em sua cabeça, escrevi “Lixo” em seu peito, desenhei uma corda em seu pescoço e bem quando iria fazer um rabo no infeliz, fui puxada para trás deixando minha obra incompleta.
-Vamos sair logo daqui! Eles estão mais rápidos do que imaginava –O moreno comentou alto, segurou na minha mão e guiou-me para o lado oposto ao dos oficiais.
Comecei a rir ao mesmo tempo que corríamos, sentindo a adrenalina alta. Era uma sensação muito boa.
Logo Lysandre me acompanhou nas gargalhadas o que tornou nosso ritmo mais lento, porém nenhum dos dois estava se importando.
De repente os homens estavam em nosso encalço, chegamos a um morro de altura média, onde dois pedaços de papelão esperavam por nós como uma pequena rota de fuga, que foi muito bem aproveitada por sinal.
Descemos em grande estilo abrindo um espaço vantajoso sobre os guardas, o resto foi mais fácil.
Seguimos até um lugar meio afastado e estranho, provavelmente era novo, entretanto não havia tempo para pensar sobre isso, apenas decidir que aquele seria nosso esconderijo.
E como se fosse telepatia, corremos ao mesmo tempo para lá sem trocar nenhuma palavra, e por mais periférico que era o local, várias crianças estavam ali, então aproveitamos para nos misturar.
Antes que nos déssemos conta, ficamos em uma das cinco filas que vinham se formando e sendo divididas por alguns guardas, porém aquele pequeno grupo era o mais agressivo dos seguranças.
-O que está rolando? Eu não tinha visto eles enquanto corríamos –Comentei baixo, me inclinando para trás, onde o Lysandre estava.
-Talvez porque demos meia volta em torno do prédio, mas não vou negar que é um lugar muito esquisito –Respondeu observando seu redor, analisando-o.
Um arrepio de mal pressentimento em minha nuca começou a me incomodar, ficado mais insuportável a cada passo à entrada.
Chegando no começo da fileira, busquei rápido e agarrei forte a mão do meu irmão ao ver o olhar de Stalon nos desprezando.
Ele possuía uma prancheta cheia de nomes, a qual pressionava contra seu peito coberto por uma camisa preta com botões brancos, por acaso, me surpreendi com todos ainda presos no pano, pois a cada respirada do velho os objetos ameaçavam estourar e sair voando.
-Vocês já foram trazidos? Achei que iriam vir com a última leva, mas dane-se –Esbravejou no final da fala me puxando com brutalidade pela blusa para dentro do prédio cinzento com três andares de puro desconhecimento e medo.
Logo um guarda chegou e me pressionou meu braço, olhou o vice-diretor como se esperasse uma ordem, e ela veio.
-Leve-a para o quarto 1a e depois trate de deixar este aqui no 3e, se certifiquem que os dois estão o mais longe possível –Ordenou com a mão direita no ombro esquerdo do meu irmão, e por fim completando a frase com um sorriso sádico, muito ciente de seus atos.
Arregalei os olhos, o medo de ser separada do Lysandre subiu por todo o corpo, impregnando-se em cada célula. Eu não iria permitir que isso acontecesse de jeito nenhum.
Igual a um reflexo, soquei o segurança, por acaso distraído, e corri até o moreno estendendo a mão para que ele segurasse. Talvez aquela tentativa maluca até poderia ter sucesso se não fosse uma prancheta dura acertando bem no meio do meu rosto.
Cambaleei para trás zonza, quem sabe o infeliz tenha gritado algo naquele momento, porém eu estava ocupada demais tentando ficar em pé para prestar atenção ou sequer ouvir.
Senti o impacto de um corpo chocando-se contra mim, em seguida foi a vez da parede me acertar e de repente uniformes negros bem passados projetaram-se como algum tipo de muro na minha frente.
Foi tudo muito rápido, mal lembro do ocorrido, salvo alguns detalhes como uma bota de sola grossa e suja se aproximando mais gigantesca do que eu esperava, a dor tomando conta e fazendo presente cada pedaço de pele, o gosto do sangue na boca as vezes engasgando-me ou os pontos negros indesejados em minha visão.
Espancaram-me até que não conseguisse mover mais os meus músculos e não sentisse algumas partes deles, quando minha mente estava prestes a apagar e descansar, fui arrastada para o quarto ordenado anteriormente.
Por um momento decidi levantar o olhar do chão, mesmo que a imagem estivesse completamente desfocada, era possível ver uma luz branca vindo da direita, destacando-se dos outros borrões. Estranhamente minha cabeça fez uma analogia à um lírio no meio do lodo, o cérebro humano é muito bizarro às vezes.


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