Um novo fliperama abriu na cidade - Parte 1

Um novo fliperama abriu na cidade - Parte 1


No começo, éramos apenas quatro amigos que gostavam de jogos de fliperama, íamos todos os dias só para jogar os games de tiro no fundo do lugar.
Nos divertíamos muito, matando zumbis e comemorando com alguns brindes.
Zack era o nosso "Líder", o mais empolgado e mandão garoto que eu já vi. Magrelo, um pouco mais baixo que eu, de cabelos castanhos, com as mechas quase cobrindo seus olhos cor de mel.
Coddy, tinha o cabelo bagunçado com algumas mechas espetadas, dizia que era seu estilo. Ele era o menos quieto do grupo, vivia falando e fazendo palhaçadas.
O terceiro era o Taylor, mas chamávamos ele de Goodloy
Quietinho e reservado, tinha um coração de ouro e um dom maravilhoso para prever quando iríamos nos dar mal. Gordinho, com cabelos oleosos e bochechas fofas de apertar.
Por fim, estava eu. A mais maluca do grupo, quem tirava a gente de encrenca, a "mãe" do grupo.
Nós nos amávamos muito e éramos um grupo totalmente unido pelos jogos de tiro.
Tudo estava às mil maravilhas, até que um dia abriu um novo fliperama bem distante do centro da cidade, diziam que tinham os melhores e mais modernos jogos, obviamente nos atraiu. Quando ficamos sabendo, era mais ou menos uma quarta-feira à tarde, rapidamente combinamos ir no dia seguinte, depois de sair da escola.
Assim fomos, e chegamos em uma loja muito moderna, cheia de luzes e milhares de máquinas. Isso nos empolgou muito, então largamos nossas bicicletas e mochilas ali, corremos para dentro.
Porém, no momento em que entramos, uma mulher feia, com um coque meio despenteado e horrível cabelos cor de palha, alta e com uniforme militar, ficou em nossa frente e deu um sorriso maldoso mostrando seus dentes podres.
-Olá crianças, vocês querem se divertir?
Perguntou em um tom forçado de gentileza.

Nós nos entreolhamos e dissemos sim, meio receosos que ela comesse nosso cérebro.
Zack e Coddy estavam prontos para correr para as máquinas, mas ela segurou seus braços com força e olhou para Goodloy e eu com cara de raiva.
-Venham logo pirralhos, ou jogarei seus dois amigos no triturador.
Ficamos os quatro tão assustados que fizemos tudo o que foi mandado, fomos para os fundos e entramos por uma porta enferrujada, onde encontramos várias outros adolescentes e crianças ali, com corpos desnutridos e poucos cabelos, pareciam loucas. Ela nos levou para uma cela, fez com que tirássemos nossas roupas e vestíssemos macacões amarelos e sujos, na frente um do outro, o que me fez passar muita vergonha. Claro que eu deveria estar preocupada com outras coisas, mas foi inevitável ficar envergonhada com aqueles rápidos olhares.
Depois ela queimou nossas roupas e saiu, fez tudo aquilo tão rapidamente como quem chega em casa, e eu até agora estava digerindo o que diabos tinha acontecido conosco.
Depois de um tempo, apenas um olhando para a cara do outro, a ficha caiu. Fomos raptados de uma maneira muito estúpida e simples, e agora estávamos presos. Comecei a me desesperar, queria ir para casa, e não ficar naquele fim de mundo infernal, pareciam que iriam nos dar comida por 10 minutos no dia e 3 horas de sono para o resto ficar trabalhando.                 
Eles me acalmaram logo, mas no fundo sabiam que eu estava certa, e as minhas santas palavras foram provadas nos dias seguintes.
O tempo foi passando, sem nada de bom nos acontecer, e depois de um ou dois dias, os dois garotos mais agitados que eu ja vi se tornaram reservados e pensativos, como se isolassem o mundo e nos excluíssem, apenas cochichando entre si.
Quando eu conseguia me livrar dos olhos dos seguranças, conversava sobre os mais diversos assuntos com Goodloy, ficamos bem mais próximos do que eu imaginava. Mas claro que conversávamos para suprir a dor um do outro, para fingir que um dia teremos uma vida normal.
Eu via o brilho nos olhos dele quando me olhava, mas na época, aquilo significava apenas alegria para mim, o que na verdade não era.
As semanas rastejantes se passaram, até que enfim os dois decidiram se abrir para nós e contar o que planejavam. E esse plano, era de fugir dali.
Esperaríamos o momento certo e fugiríamos, disseram que já tinham pego tudo o que precisávamos,e me preocupava pensar no que seria isso.
Ao longo do tempo que esperávamos, se é que ele existia, Zack aparecia com comida de verdade, e de vez em quando até doces para nos alimentar. Toda vez que eu perguntava da onde saia tudo aquilo, ele não queria me mostrar de jeito nenhum se fazendo de desentendido e desviando do assunto.
Éramos os únicos prisioneiros saudáveis dali, por isso nos isolamos para não ter que lidar com os olhares feios e outros que pareciam querer nos comer, os guardas nem ligavam para isso, e a mulher, que descobri ser chamada de Grande Mestra, ficava o tempo todo de olho em nós, por isso procurávamos fingir comer muito na hora do almoço.
Foi então que o grande dia chegou, a ditadora do mal anunciou uma execução pública ou, como ela gostava de chamar, "Adestramento de gado", para quem foi muito desobediente.
Eu nem sabia realmente se aquelas pessoas anunciadas fizeram algo realmente errado, pelos olhares assustados e gemidos doloridos prevendo a dor, supus que não.
No dia, sentei com meus amigos olhando os pobres adolescentes presos em amarras a cadeiras que serviam para eletrocuta-los.
Depois de um longo discurso, a execução começou e o público, por algum motivo começou a bater palmas fascinado, e aproveitando essa pequena bagunça, corremos pelos corredores e máquinas movidas a vapor.
Enquanto corríamos, ouvimos o grito daquela mulher, ela tinha nos visto. Nos escondemos rapidamente, os dois se esconderam atrás de uma máquina, e eu corri para trás das prateleiras de baixo porte cheia de brinquedos prontos para serem vendidos.
Vi ela pegando uma espingarda, enquanto gritava que dois prisioneiros foram vistos, correu para a máquina e os dois rapidamente saíram vindo na minha direção.

A partir daquele momento, era cada um por si, tínhamos que lutar por nossas vidas. Zack me chamou por um assobio e jogou três pistolas na minha direção, as peguei e guardei duas enquanto uma ficou em minha mão. Ela me viu e gritou algo que nem consegui distinguir o que era, comecei a correr entre os corredores de prateleiras, mas a situação realmente ficou séria quando ela deu o primeiro tiro que felizmente não me acertou.
Me escondi e ouvi sua risada, já sabia o porquê, nossos esconderijos eram pequenos demais e nos obrigavam a ficar agachados limitando nossos movimentos, e ela por sua vez poderia correr livremente.
Não importava o lugar que eu corria, ela sempre parecia estar um passo a frente me fazendo mudar de corredor a todo momento.
Com o desespero, forcei minhas pernas a correrem mais rápido, ao ponto que não conseguia pensar em nada, meus olhos só viam brinquedos e prateleiras por todo o canto.
Foi então que, na hora de mudar de corredor, trombei com ela pronta para atirar em Zack, que estava desprotegido.
Assim, levantei minha arma, fechei os olhos e atirei com medo ao mesmo tempo que corria na direção dos dois.
Atirei mais ou menos 5 vezes e ainda joguei a arma para algum lugar.
Me escondi saindo do labirinto e observei a Grande Mestra com uma ferida no ombro, esse era o erro que precisávamos para derrota-la.
Peguei outra, preta e de cano longo, preparada para atirar novamente.
Corri de volta para o labirinto, vi Goodloy escondido e me juntei a ele. Nos olhamos e sorrimos por alguns segundos, mas ela nos viu e pegou se preparou para matar.
Como por instinto, saí dali e me escondi em outro corredor que pudesse vê-la
Porém, para a minha surpresa, meu amigo ficara parado. Ela apontou a arma e atirou, mas estava sem munição.
Um alívio tomou conta de mim, mas não por muito tempo.
Com raiva, ela jogou o objeto nele e pegou outra do chão, aquela que eu havia jogado com o intuito de atingi-la.
Mirou, e atirou outras 5 vezes.
Ouvir aqueles tiros me atordoou, balançou meu interior como se me chacoalhasse brutalmente de manhã para me acordar.
Sem pensar, preparei a arma e apontei me levantando, e quando ela olhou para mim, atirei 12 vezes em seu peito.
A megera caiu como um tronco, fazendo uma poça de sangue em sua volta, esse foi o sinal para meus dois amigos saírem de seus esconderijos devagar.
O ar estava pesado e eu, ofegante. Finalmente tínhamos conseguido dar um fim naquilo, mas nada parecia real Como um salto,de repente corri até Goodloy,me agachei e segurei sua mão gélida com um fio de esperanças que ele estivesse vivo,mas era apenas uma ilusão. Seus olhos castanhos estavam abertos, sua boca entreaberta e o peito ensanguentado.Não suportamos aquela imagem,me pus a chorar. Rapidamente fui envolta por quatro braços e ficamos conversando tanto, parecíamos tão próximos que nossos rostos foram se aproximando cada vez mais até que nos beijamos pela primeira vez.
Foi simplesmente mágico, parecia que nossas bocas foram feitas uma para a outra. E eu não gostaria de desgrudar dele nunca mais.
Porém, depois daquele dia, não nos vimos mais e completando exatamente uma semana depois do velório, ele se mudou para outro país.
E foi assim que nosso grupo se dissipou para sempre.
E eu? Cresci neste mesmo lugar até completar o ensino médio e estou fazendo a faculdade na Grécia de psicologia criminal.


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