Hospital de Mentiras - Capítulo 4 - O redirecionamento de Joana

Hospital de Mentiras - Capítulo 4 - O redirecionamento de Joana


Aviso: Se você não viu o começo desta histórias, clique aqui! para ser redirecionado ao primeiro capítulo: "As estrelas sorriem".

Estava em um campo vasto e deserto, minha respiração era cada vez mais ofegante a medida do tempo em que eu corria desesperadamente, podia jurar que alguém me perseguia.
Até que ao longe avistei um prédio, no começo pequeno, porém foi ficando gigantesco, fazendo-me perguntar como não havia o visto antes.
Quando cheguei, subi as escadas tentando escapar da pessoa, conforme fui continuando, as paredes começaram a ficar estreitas até acabar de frente com uma janela, sendo minha única saída.
Aproximei-me daquele buraco mal feito e observei o acampamento ao longe, uma sensação de paz percorreu meu corpo, mas o sentimento durou apenas alguns segundos esgotando-se com um som de passos apressados e gritos chegando perto.
Olhei novamente para o meu lar, que desta vez queimada em chamas. Atrás de mim, uma luz brilhante crescia luminosa, afastando quem queria me fazer mal.
De repente os dois elementos, o fogo destruidor e a luz pacificadora, estavam cercando meu corpo e mesmo que contrários, pareciam em harmonia, movendo-se no mesmo ritmo, até avançarem e colidirem comigo.
Gritei.
Acordei sendo segurada na cama, Lysandre estava me prendendo com uma expressão preocupada, encarando meus olhos intensamente como se quisesse ler minha mente.
-Pesadelo? –Perguntou quase em um murmuro. Constrangido e preocupado, seu olhar desviou-se para algum canto enquanto esperava minha resposta, por mais que eu ache que ele não queria ouvir.
-Sim –Respondi e ao perceber suas mãos afrouxarem nos meus braços, me soltei e o abracei com força, ainda sentindo toda a angustia em meu peito.
De tarde, estávamos sentados atrás do refeitório eu, Lys, Mary e Teddy descansando depois de uma manhã de trabalho pesado, para eles.
-E aquela história de exército, deu alguma coisa? –Perguntei olhando–a curiosa, logo após sentarmos.
-Do que estamos falando? –Perguntou meu irmão confuso, por fora dos últimos acontecimentos, coitado.
-Eu me inscrevi na nova atividade de exército e fiz o teste hoje para entrar, acho que fui bem –Comentou dando de ombros fazendo cara de pensativa, tudo para agir de um jeito legal para o Teddy.
-Mas por que quis isso? O trabalho no campo não é bom? –Perguntou o ruivo, encarando-a de uma maneira intrigada. Pelo que me parece ele se impressiona fácil.
Os dois ficaram se olhando por um tempo, guardem minhas palavras isso ainda vai resultar em romance, tenho certeza disso, o que estão lendo neste momento é o começo de uma história de amor. Mas isso na verdade nem é o foco.
-Com certeza não, eu prefiro muito mais algo perigoso! Além de que o treinamento vai me deixar capaz de nos defender, igual a uma heroína –Respondeu animando-se, estufando o peito e admirando o horizonte, constantemente com o olhar sonhador.
-Por que precisaríamos disso? –Perguntei rindo, porém algo me diz que os dois não acharam graça, pois mexeram-se desconfortáveis em uma tentativa estranha de esconder o sentimento que veio à tona neles por causa da minha fala.
Suspirei desistindo da ideia de extrair algo dos dois, quando querem podem ser bem teimosos em manter segredos. Não deve ser tão importante, provavelmente alguma outra de suas teorias loucas e conspirações.
Um silêncio reinou entre nós, apenas com o som do canto de um passarinho desavisado, o qual em questão de segundos vai ser alvo de crianças ou até adultos perversos
Ao fundo, o barulho estridente dos alto falantes indicava a preparação para um discurso que logo iria começar. Talvez fosse uma declaração, ou até notícias triviais da semana, mas honestamente eu não estava interessada.
Avisei aos outros que nós não iríamos para o palco desta vez e então, enquanto o casal em formação se afastava, os dois irmãos detetives entravam em ação.
-Este é o momento perfeito, Francis deve estar bem longe despejando suas bobagens sem parar naquilo que ele chama de elóquio e os seguranças provavelmente estarão com ele –Comentou Lysandre animado enquanto caminhávamos em passos rápidos até nosso grandioso destino.
-Acha que vamos encontrar algo lá? –Perguntei nervosa passando pelo gramado ao lado da estrada brilhante, onde as outras crianças andavam no sentido oposto.
-É nossa melhor pista –Respondeu pensativo, tanto receoso quanto eu sobre o que iríamos fazer, porém ainda continuava em frente decidido.
Paramos diante da casa da direção, segundo Lys a construção é do estilo grego, mas não tenho ideia do que é isso.
Apenas sei que o lugar é gigante, branco e simétrico, posso considera-lo até arrumado, porém aí já são elogios demais, desnecessário.
-Onde os arquivos devem estar? –Perguntei olhando para as janelas, como se quisesse adivinhar a planta do prédio.
-Boa pergunta, talvez possamos começar com a sala dele –Sugeriu com a mão direita no queixo, pensando.
Logo caminhamos para o lado direto da construção e abrimos a janela da sala, entrei primeiro e depois o Lys, nós dois com o peito estufado de determinação.
-Pelo que li, os documentos devem estar no arquivo morto –Falou olhando em volta da sala, procurando algo que pudesse ser esse tal defunto.
-Onde conseguiu tanta informação inútil?
-Não parece inútil agora –Respondeu com um pequeno sorriso malandro, eu reagi de uma forma mais original: mostrando a língua. Sem o que fazer, nós nos pusemos a procurar.
A sala era grande, com paredes brancas e piso de azulejo branco, o ambiente era gélido, com a mesa do diretor no centro feita de metal sem graça, com papéis e objetos chatos. Sendo sincera, parece um escritório de mentirinha, de tão impessoal.
-Aqui –Comentou em frente a uma porta de metal, virou e puxou a maçaneta, porem estava trancada –Mas não abre, temos que achar a chave.
O lugar mais lógico de estar era a mesa, então procurei entre as gavetas e os papéis, entretanto encontrei algo muito mais valioso, a ficha de uma garota.
Joana Ribeiro, loira de olhos verdes, agora com 18 anos. De certa forma eu lembro dela, sempre enfurnada no laboratório de química e relativamente antissocial.
Não sei muito sobre ela, mas o que me chamou a atenção foi o carimbo vermelho de “Redirecionado” em sua foto.
-E aí? Conseguiu? –Perguntou Lys se aproximando de mim curioso, apoiou a mão em meu ombro e se reclinou para frente querendo ver melhor.
-Não, mas olha isso –Mostrei o papel com o polegar indicando a singular marca –Existem mais acampamentos como esse! Você acredita nisso? O monstro é maior do que pensávamos.
Assim, estávamos tão envoltos em nossas conspirações e teorias que não percebemos os passos no corredor vindo em direção à sala, e quando a porta se abriu só conseguimos abaixar, mas obviamente fomos vistos.
O diretor era um homem mau, importante e imponente. Sempre ereto, com o cabelo lambido com gel e roupas nunca amassadas, enquanto a maioria de nós tem que lavar as próprias vestes, aposto que a mãe dele até passa no ferro as dele. Seu rosto pontudo e fino de mauricinho entregava sua maldade mesmo com o sorriso bondoso, embora que falso. Resumindo, ele não é legal.
O infeliz rapidamente passou pela mesa e me pegou pela gola da blusa com força, já levantando meu corpo do chão.
-O que os dois diabinhos estão fazendo aqui? –Perguntou entre os dentes fingindo um sorriso amigável e falhando miseravelmente. Tentei colocar a ponta do pé no azulejo, mas o homem puxou ainda mais para cima.
-Não chame o Lysandre assim! Ele é um anjo –Gritei e recebi um tapa bem no meio do rosto em troca.
Embora eu não tenha soltado nenhum som mesmo com a dor, certamente não o daria este gostinho, assim que ouvi o gemido do meu irmão, parti para cima do fanfarrão com ódio nos olhos.
Cravei minhas unhas em sua pele e apertei logo em seguida puxando, queria furar seus olhos, rasgar sua boca e enfiar o dedo no nariz dele para fazê-lo vomitar, entretanto, antes que pudesse realizar meus planos recebi um chute nas costelas.  Os guardas me tiraram de cima do diretor e jogaram meu corpinho no chão para me bater.
Não conseguia mais ouvir os sons nítidos, apenas algo abafado, as imagens passavam muito rápido enquanto sangue saía pela boca. Às vezes a violência chegava em um pico, resultando em pontos brilhantes ou a escuridão por poucos segundos na minha visão.

Mas no final eu continuava resistindo, ou pelo menos tentando.

Obrigada por ter lido até aqui, se gostaram, por favor comentem e compartilhem, isso ajuda muito o blog!

Para continuar lendo, clique aqui para ler "Onde tudo começou" enquanto o capítulo 5 de Hospital de Mentiras ainda não fica pronto.

Comentários