Hospital de Mentiras - Capítulo 3 - O brilho nos seus olhos

Hospital de Mentiras - Capítulo 3 - O brilho nos seus olhos


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-Um kit de química caído, frascos estouraram e os líquidos se misturaram virando vermelho, vamos logo embora que esta garota tem muito a arrumar –Respondeu rápido andando para longe.
Depois de um tempo para verificar se estava tudo seguro, meu irmão me ajudou a sair dali, limpamos toda a sujeira e saímos dali o mais rápido possível, tomando o triplo do cuidado para não sermos vistos pelos espiões de plantão.
Não culpo essas crianças que denunciam, as recompensas para quem pegar o outro desobedecendo as regras são bem tentadoras, talvez em outra situação eu também optasse por esse método de melhorar de vida.
À tarde, decidimos descansar um pouco da adrenalina embaixo de uma árvore longe das pessoas, em um lugar vasto e verde, um espaço sobrando no acampamento que fora esquecido. Às vezes me pego surpreendida com o tamanho do nosso “lar”.
O dia estava confortável, ainda mais com a sombra do grande ipê. Perfeito para dormir e não ser incomodado por ninguém durante um longo tempo. Porém mesmo com a paz do ambiente, havia algo errado com Lysandre.
-Ei... vai jogar fora aquelas carnes logo? Se verem isso com a gente vamos nos ferrar legal –Comentei tentando puxar assunto forçando um sorriso para encoraja-lo a falar o que parecia estar preso em sua garganta.
-Estou juntando para transformar em biodiesel, como não pude ajuda-los pelo menos vou fazer suas mortes não serem em vão –Respondeu com um pequeno sorriso e um olhar triste, quase melancólico –Luana geralmente me ajuda nisso, ela vai passar no fim da semana para pegar.
-Ah, entendi..., mas o que raios é biodiesel? –Perguntei alimentando a conversa, e deu certo pois seus olhos iluminaram-se de ânimo.
-É um biocombustível criado através de fontes renováveis como o óleo vegetal ou gordura animal enquanto o diesel comum tem a sua origem mineral. O benefício de o usar envolve a melhoria da qualidade do ar porque emite menos gases nocivos à saúde humana do que o convencional.
Cara, adoro meu irmão, mas não consigo entender porque ele passa tanto tempo da sua vida pesquisando e lendo tanto conhecimento inútil, que não vai lhe servir para nada no nosso mundo.
-E para fazê-lo requer diversos processos químicos, por isso a nossa amiga me ajuda com isso, porém acho deplorável expor crianças da nossa idade e até mais novas a produtos químicos tóxicos e radioativos –Desabafou suspirando, soltando o peso do corpo contra o tronco de madeira.
-Pois é, com certeza os pais ficariam muito bravos se soubessem disso –Comentei querendo brincar, entretanto apenas piorei seu humor, tornando-o mais introspectivo ainda.
Ficamos em silêncio desconfortável por um tempo, cada um preso em seus próprios pensamentos. Eu realmente gostaria de estar aproveitando aquela brisa gostosa, mas era impossível com o clima tenso entre nós.
-Lys, por favor me diz o que tem de errado contigo –Implorei finalmente e de repente, me virei para ele preocupada demais para fazer vista grossa de seu sofrimento, afinal a função de um irmão é cuidar do outro.
-Bem, antes do almoço enquanto você tomava banho, eu decidi ajeitar a sua gaveta, já que ela vive desarrumada, e no fundo eu encontrei esse colar –Respondeu tirando do bolso uma corrente linda de ouro –eu acho- com um pingente de uma garrafa pequena e dentro um papel solto.
-Eu lembro dele, era meu pequeno tesouro –Peguei o pequeno cordão analisando-o –A uns bons anos atrás estava com uma suspeita de que queriam rouba-lo de mim, então escondi e acabei esquecendo da existência. –Expliquei rindo.
-A questão é, olhe o que tem na folha –Comentou aproximando-se de mim, e como foi pedido assim o fiz. Tirei a rolha e abri o rolinho.
Paralisei ao ver a foto, era a imagem mais linda que já vi, nossa família unida em frente a antiga casa. Minha mãe e meu pai, quem eu tinha memórias quase nulas sobre, sorrindo alegres segurando nós dois aos quatro anos no quintal florido de lírios na nossa pequena e charmosa casa amarela.
Já estava quase chorando quando vi algo incomum, uma frase escrita bem no canto com uma letra estranha, tipo dos livros, porém diferente.
“É para o seu próprio bem, amamos vocês” era o que estava escrito, mas não fazia nenhum sentido e chegava a ser praticamente aleatória, a menos que não fosse e tivesse um propósito por trás, entretanto que diabos uma mensagem fofinha e brega dessa estaria escondendo?
-Viu também? –Perguntou olhando-me com um sorriso –Vamos lá, eu já sei que está formulando teorias na sua cabeça, pode ir me contando
-Não é nada demais, só... –Comecei a contar, até perceber uma coisa –Pera, como sabe disso?
-O brilho nos seus olhos –Respondeu deixando a garota aqui, bem constrangida ao ponto de desviar o olhar de volta para o papel.
Voltando à imagem, deitei no colo do meu irmão encarando a fotografia do alto, um enigma complexo do jeito que gosto, porém este é diferente dos outros, pois tenho certas dúvidas se posso resolvê-lo.
Ao contrário dos problemas já prontos, aquele não parecia dispor de todas as peças para montar o quebra cabeça. E o pior, como consegui-las se já faz mais de uma década desde a data do nosso abandono? Como recuperar pistas, se é que não estão perdidas para sempre, trancadas a sete chaves?
-Sabe Lys... O que você acha que eles queriam dizer? Digo, como podem falar que é para o nosso próprio bem nos colocar nesse inferno? E ainda acrescentar que nos amam! –Esbravejei, por que tinham que ter tornado nossa vida tão confusa e nos encher de perguntas com esses mistérios inúteis? Isso não é justo!
-Talvez não soubessem disso, nenhum pai ou mãe deixaria o filho nessas condições se tivesse plena consciência do que realmente acontece –Comentou distante, como quem lembra de algo.
-Ah Lysandre, você ilumina a minha vida com toda a sua bondade e esperança –Falei colocando minha mão em sua bochecha com carinho, admirando-o.

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